Nessa primeira semana do ano de 2022 tem sido muito comentada a possibilidade de venda do Botafogo para o empresário Textor, sócio também do time da primeira divisão da Liga Inglesa Crystal Palace.

Dentre as matérias chamou atenção a entrevista exclusiva que o empresário investidor deu ao GloboEsporte.com na qual ele destaca a excelente legislação criada pelo Brasil para facilitar investimentos. Vejamos a passagem traduzida pela reportagem:
“Um clube como o Botafogo, com milhões de torcedores, dá muitas oportunidades. Onde há esse tipo de paixão, há chance para crescimento. E não há uma dívida muito alta para um modelo de negócios global. É uma dívida imensa para um clube daqui, mas o governo fez uma grande lei, que deixou essa quantia possível de se pagar. Fizeram um grande trabalho para preparar o terreno. O governo não faz isso por nós lá nos EUA (risos)”.

Como sabemos, a referida lei é a 14.193, que foi publicada no dia 06 de agosto de 2021 e institui a Sociedade Anônima de Futebol (SAF). Portanto, por incrível que pareça, 5 meses depois já temos dois grandes investimentos oriundos dela: a compra do Cruzeiro pelo Ronaldo e a iminente compra do Botafogo pelo Textor.

Um dos principais destaques da lei é o artigo 10, inciso I, que limita em 20% das receitas da SAF o pagamento das dívidas, impedindo assim os famosos bloqueios judiciais que tanto atrapalham a organização dos clubes. Mas qual o cálculo do empresário investidor para pagar R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões) e ainda se tornar solidário em uma dívida de aproximadamente 1 bilhão? Para mostrar um pouco essa projeção custo-benefício vale analisarmos a recente (2019) venda do lateral Wan-Bissaka do Crystal Palace ao Manchester United por 50 milhões de libras (244 milhões de reais na cotação da época).

Ora, nós somos conhecidos como o maior celeiro do mundo de jogadores de futebol, ao ponto de, na entrevista, Textor chegar a falar em jogadores que tiveram os pés beijados por Deus, mas nossas vendas parecem e são sempre muito abaixo do que as vendas Europeias, como se o jogador precisasse ser testado em algum time intermediário do exterior para, adaptando-se, poder agregar o seu real valor de mercado. Para Textor e sua equipe o valor é muito justo. 400 milhões ou 1.4 bilhão, se somarmos tudo, vale muito a pena quando vemos os valores das transações que estão atualmente envolvendo jovens talentos como o lateral Wan-Bissaka.

No mais, se o Botafogo vai ser o celeiro Textor já tem também o time intermediário e eu torço para que ele faça muito dinheiro, que seja uma gestão de sucesso e a gente profissionalize cada vez mais o futebol no Brasil. Ele está deixando claro que sua intenção é o “alcance global na identificação de talentos”. É isso que dá dinheiro, é o motivo do investidor estar correndo o risco que está. No entanto, o problema podem ser os títulos. Clubes empresas têm se mostrado muito organizados e estáveis, sempre brigando na parte de cima da tabela, mas com a intenção clara de fazer negócios e para o investidor um jogador como Wan-Bissaka vale literalmente mais do que as premiações financeiras da Copa do Brasil, Libertadores e Campeonato Brasileiro juntos (aproximadamente 215 milhões em 2021 considerando apenas o valor pela primeira colocação).